Cuidado não é moeda de troca

Me falaram pra adotar um pet pra lidar com minha solidão. Eu não vou adotar pet nenhum – não consigo nem me manter viva, como diabos vou cuidar de uma vida além da minha? Por que diabos vou colocar num animal indefeso o peso de cuidar emocionalmente de mim?

Quando penso sobre amor e cuidado, eu penso que em muitas ocasiões já foi esperado de mim que retribuísse o favor de ser cuidada. Eu sempre tento, mas eu não sei o suficiente sobre cuidado pra conseguir ser útil.

Não podemos acreditar que o cuidado é uma moeda de troca. Que eu tenho que cuidar de você porque você cuidou de mim, ou que você precisa cuidar de mim porque em algum momento será você que será cuidada. O amor não funciona assim – isso é apenas interesse.

Se você realmente se preocupa com alguém, você faz o que está no seu limite pra ajudar aquela pessoa, sem também se comprometer tanto. E se você se importa com quem tá te ajudando, você faz algo pra retribuir a gratidão, mas apenas se você se importa. Se não, seja sincera, não gaste o tempo de quem se preocupa contigo.

E sobre pets, bom, eles não podem tomar esse tipo de decisão, então por que decidimos ter pets como alívio à nossa solidão? Uma coisa é amar um bichinho, cuidar dele, saber que ele nunca vai fazer nada que você queira que ele faça pra compensar os anos de comida e areia limpa. Outra coisa é ter um animal para satisfazer sua necessidade social, ou seja, colocar um peso em um pet. Isso representa, na verdade, uma falta de amor. Uma relação de puro interesse.

Isso tudo tem um pouco a ver com meu pensamento sobre ir morar com meu pai ou com minha mãe – por mais que eu precise de ajuda, eu já percebi que há uma conversa de que, no futuro, vou ter que ajudar meus pais. Eu até entendo ajudar fisicamente, afinal todos nós vamos nos debilitar algum dia. Mas não quero ser psicóloga de ninguém, ainda mais estando em um estado de saúde mental tão frágil. Eu preciso sim de ajuda, mas se essa ajuda tiver um custo, não sei se vale a pena.