Touch-starvation e o fantasma da solidão
by Anne Isabelle
Eu sempre fui uma pessoa muito solitária. Filha única, não tinha muitos amigos na infância, autismo não diagnosticado. Na adolescência, passava mais tempo com meus webamigos do que com pessoas na vida real.
Não sei se eu não dava muita abertura ou se só não rolava, mas não era comum que meus pais ou outras pessoas me abraçassem ou me fizessem carinho. Então cresci e cheguei na vida adulta com praticamente nenhum contato físico e, de certa forma, isolada afetivamente de pessoas.
Me lembro de um dia, em 2020, que assisti Atypical e depois um desenho fofo no mesmo dia e entrei em desespero: eu quero contato físico e afetivo de alguém, mas por conta do meu autismo e da minha demissexualidade, isso seria praticamente impossível.
Eu tinha poucos amigos e nenhum relacionamento, ainda não havia transicionado e não tinha ainda fechado o diagnóstico de autismo. Mas eu percebia que, com a solidão, minha necessidade de tocar e ser tocada só aumentava, e eu estava vivendo uma abstinência de toques por anos.
Só fui ter relacionamentos afetivos na vida adulta, além de amizades muito significativas. Mas uma coisa ainda me afeta muito: o quão sozinha ainda me sinto. Não sei se é porque todo mundo que eu conheço e que se importa comigo está tão ocupada tentando lidar com a própria vida, mas tem dias que a necessidade de afeto e de toques é difícil de lidar.
As vezes só quero chorar muito. Chorar porque o mundo faz com que minhas amigas e meus afetos estejam ocupados demais pra pensar em mim, chorar porque as vezes eu me sinto tão sozinha, chorar porque só queria ser abraçada, chorar porque eu tenho tantas nuances e tantas coisas que já são complicadas demais pra lidar.
Muitas pessoas tentam me empoderar - você precisa aprender a viver só, você é foda, seja foda. Mas poucas pessoas entendem que não é justo que neurotípicos, cis e alosexuais tenham afeto e toque de forma tão fácil enquanto eu tenho que me contentar com o falso empoderamento.
Eu só quero ser amada também.
Ciao.
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