Subterranean Homesick Annie

Eu moro sozinha há mais de dois anos. Decidi vir pra cá quando meus pais se separaram, porque não me sentia confortável estando no meio de um conflito entre os dois. Foi um período triste e desconfortável da minha vida, mas depois de vir morar sozinha eu passei por um momento de finalmente experimentar a independência.

Eu cozinhava minhas próprias comidas, eu limpava minha casa, eu fazia minhas coisas. Mas também tinha transtorno bipolar não diagnosticado e autismo nível 2 – não demorou muito tempo pra tudo desmoronar, e ainda assim eu tentar me manter viva numa maré de caos.

Uma das coisas que mais me afeta até hoje são os shopping sprees que acontecem em momentos de hipomania ou hiperfoco, que me deixaram completamente endividada até hoje. Além disso, quando tenho burnout autista, eu fico em completo shutdown e tenho muita dificuldade pra fazer qualquer coisa.

Nesses últimos tempos, eu tenho estado muito mal com relação a tudo na minha vida – trabalho, relações, cuidar de mim mesma. E pra piorar, ainda estou no meio de uma briga entre meus pais – eles ainda tentam me convencer a escolher um deles pra ficar. Não me sinto confortável estando no meio dessa briga, mesmo sabendo que não posso viver uma vida tão independente quanto eu achava que podia.

Eu sinto que meus pais ainda não entendem minhas nuances. Eles ainda não entendem que eu passei minha vida inteira mascarando os meus sentimentos e que tudo sempre foi duas vezes mais difícil pra mim. Que nada é tão fácil quanto parece, que quando eu estou sem falar é porque eu preciso de um tempo pra mim, que preciso de silêncio com muita frequência, que preciso que meus limites extremamente curtos sejam respeitados (se não eu vou ter um meltdown).

Acho que viver a minha vida toda com meus pais, tendo transtornos não diagnosticados, foi de certa forma traumático, e não sei como abordar isso sem parecer ingrata. E eu sei que eu não posso cuidar de mim mesma. Eu já não posso ter mais uma vida independente.

Estou vivendo dilemas e mais dilemas. Não sei o que fazer.