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17 August 2025

A mulher que sempre quis ser

by Anne Isabelle

A masculinidade clássica nunca me encaixou. Tóxica, viril, frágil (mas que não demonstra vulnerabilidades), compulsória. Hoje entendo que a masculinidade pode ser vivida de forma mais saudável, mas eu nunca consegui me entender como um homem (apesar de não ter o vocabulário e o conhecimento pra compreender isso durante muito tempo).

Durante muito tempo, eu não sabia o que eu era. Eu não sabia nada sobre minha sexualidade, eu não sabia por que eu não me relacionava, eu não sabia por que eu ainda era virgem, eu não sabia por que eu me sentia tão frágil e vulnerável e por que eu precisava esconder isso do mundo.

Eu vivi um mundo de privilégios, obviamente. Não estive tão vulnerável aos abusos como meninas cis. Tive oportunidades de carreira muito cedo. Passei pelo menos 4 anos da minha carreira em TI me identificando como um homem cis hétero. Eu passei a me identificar abertamente como trans só depois de me estabelecer muito bem financeiramente.

Eu reconheço todas as portas que fechei por ter saído do armário. Mas algumas se abriram.


Acabei de ver um post no Instagram falando contra TERFs (trans-exclusionary radical feminists). Infelizmente, o post, muito bem intencionado, estava recheado de comentários de pessoas destilando transfobia. Eu detesto ler esse tipo de coisa. Eu tento colocar na minha cabeça que todas essas pessoas são más e estão reproduzindo uma ideologia conservadora que não tem nada a ver com o que precisamos realmente atacar.

Não podemos ser contra homens, por mais que eu não me sinta tão bem perto deles. Digo isso pois acredito que simplesmente não é produtivo – homens existem e vão sempre existir. A luta não é contra eles. A luta é contra o patriarcado – e o capitalismo. A luta é conta a opressão baseada em gênero e classe social, e essa opressão se observa não só sob mulheres cis, mas sob todos os gêneros (incluindo homens cis).

Acreditar que mulheres trans não se encaixam na discussão sobre feminismo é uma visão míope. Isso torna o feminismo um mero clube da luluzinha.


A conversa sobre transfobia me machuca. Eu só quero ser a mulher que sempre quis ser. Eu me permito ignorar o discurso de ódio de vez em quando pra lembrar sobre como eu percebo minha transição e a transição de todas minhas amigas, amigos e amigues como algo lindo. Essas pessoas todas se encontravam em momentos em que estavam deprimidas, em que não se viam como a caixinha de gênero que lhes era imposta pela sociedade. E elas decidiram fazer algo subversivo – ser quem elas sempre queriam ser.

Hoje eu me olho no espelho e gosto do que vejo. Meu nome me encaixa tão bem (e convenhamos – é um nome lindo). Uso roupas incríveis e estou sempre com os melhores looks. Me conheço muito mais sexualmente e em estilo de relacionamentos. Tenho trabalhado muito minha saúde física e mental. Eu me sinto bem.

Eu me sinto eu.

Eu me sinto como a mulher que eu sempre quis ser.

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