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A catgirls life 🏳️‍⚧️😺

6 October 2025

Tentando não desistir

by Anne Isabelle

Já perdi as contas das vezes em que eu quis desistir. Sumir completamente. Pensei e escrevi sobre suicídio. Escrevi notas e mais notas. Planejei formas de me matar de modo que ninguém notasse.

O instinto de sobrevivência sempre sabota nesse momento: seja postando músicas tristes, como as da Carissa’s Wierd, seja postando links cifrados para o meu blog, de modo que quem me entenda minimamente vai correr atrás de ler minhas mensagens. As vezes eu peço ajuda, uma ajuda sincera. Eu falo: eu preciso de ajuda.

Nesses últimos dias eu precisei de ajuda. Eu me senti muito mal. Eu me desesperei. Eu me envergonhei. Cobrei ajuda de quem eu nem devia ter cobrado ajuda e me arrependi depois. Acho que perdi mais amigos. As coisas estão estranhas.

Eu continuo me sentindo só.

E num momento em que não sei se o que estou sentindo é a mania, se sou eu simplesmente enlouquecendo, eu sinto uma certa felicidade, uma estranha felicidade.

Depois de um quente dia, a brisa fria sopra pela janela enquanto escrevo esse texto. Ela me acalma.

Passei a noite vendo meus desenhos favoritos. Estou agora tentando me ocupar. Estou tentando não me sentir tão só.

Estou tentando lidar com o fato de que eu vou continuar perdendo amigos, pois a vida adulta se parece com isso. E de que eu não preciso achar isso o fim do mundo. Talvez isso possa ser um novo começo.

Aos que me deixaram, não espero nada de mal. Vocês tinham o motivo de vocês de me deixarem. Eu entendo que sou uma pessoa difícil, eu venho tentando trabalhar minhas nuances, eu venho tentando melhorar. Mas não sou, nem nunca serei, nem tenho mesmo intenção de ser perfeita. Eu estou aprendendo a gostar das minhas imperfeições, e me amar é amar a isso.

A verdade pode ser dura: talvez ninguém, além de mim mesma, me ame. Nem eu mesma me aceito como sou, na maior parte do tempo. Mas eu estou fazendo um esforço pra gostar de mim um pouco mais.

Tem algo muito simbólico em passar a noite só, vendo meus desenhos favoritos na televisão, balançando pra frente e pra trás e dando boas gargalhadas. Sozinha.

Esse texto não tem a intenção de enaltecer a solidão. Eu sou, de certa forma, vítima do hiperindividualismo da sociedade contemporânea, capitalista, neoliberal, ocidental. Uma sociedade que enaltece a autoajuda e a solidão ao invés de estimular a comunidade, o acolhimento. Uma sociedade em que só se faz algo pro outro se ele puder fazer algo de volta pra você. Uma sociedade em que todos temos demandas e prioridades, mas o cultivo de relações está cada vez mais baixo na nossa lista.

Eu continuo me sentindo só, e continuo precisando de ajuda, e continuo procurando pessoas que me entendam, que me aceitem, que me acolham. Mas, pelo menos por enquanto, me sinto mais calma.

Ciao.

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